O assunto já é conhecido de todos: a violência nas escolas. O problema tomou proporções assustadoras. Os professores estão acuados. As agressões nas salas de aula vão dos insultos verbais aos desacatos pessoais e, muitas vezes, violência física.
Igual vandalismo ocorre com o equipamento escolar. As carteiras são rabiscadas com palavreado ofensivo, os banheiros são emporcalhados impedindo o uso decente, os livros das bibliotecas são depredados com raiva.
Em suma, as escolas públicas e privadas estão sendo habitadas por uma população de vândalos - adolescentes que buscam concentrar seu ódio em algum ponto para mostrar a sua aversão às regras e à disciplina da civilidade.
Os professores estão cada vez mais temerosos. Já se fala em fobia escolar. Muitos deles têm medo de entrar na sala de aula, pois sabem ser impotentes para enfrentar a agressividade da adolescência dos dias de hoje.
A situação é muito grave. Educadores e psicólogos têm estudado o assunto de vários ângulos. Ninguém chegou à fórmula mágica do respeito necessário. Os professores culpam os pais. Os pais culpam os professores. Professores e pais culpam os diretores. Os diretores culpam as autoridades educacionais e assim vai. É um longo jogo de empurra-empurra como bem classifica Rosely Sayão, psicóloga que trata desse tema com freqüência neste jornal.
De todas as explicações, impressiona-me a que analisa com profundidade a nova família. O mundo mudou muito nos últimos 50 anos e a família mudou mais ainda. No passado, errava-se pelas agressões autoritárias praticadas contra os filhos por motivos banais. Hoje, erra-se pela falta de regras com que são criados os filhos.
Penso ser pouco numeroso o grupo de alunos que são disciplinados em casa e indisciplinados na escola. O comportamento escolar reflete, em grande parte, o que é ensinado pelos pais.
Os pais modernos ficaram sem tempo para educar os filhos. Estes tendem a ficar sozinhos em casa ou envolvidos por verdadeiras gangues cujo padrão de comportamento vai do assalto verbal à agressão física, passando pelas drogas e sexo descontrolados. A família moderna terceirizou a educação dos filhos - deixando-os a cargo de empregadas sem tempo e preparo para substituir os pais ou simplesmente deixaram os filhos como reféns de grupos que cultivam o desrespeito.
Sei que esse problema é uma das preocupações centrais das autoridades educacionais de hoje. Vejo com bons olhos algumas experiências que parecem reduzir o grau de violência escolar como é o caso da abertura das escolas aos alunos e pais nos fins de semana, a intensificação das atividades esportivas, o estímulo à música através de orquestras e corais, a explicação da razão de ser das regras escolares e várias outras.
Mas o problema está longe de ser resolvido porque os adolescentes agressivos e violentos estão, na verdade, mostrando o resultado do abandono familiar. É um problema de grande gravidade que não se resolve com atos de governo ou punições dos jovens. Os pais têm de se conscientizar que a escola não pode consertar o que eles estragam em casa
Antônio Ermírio de Moraes - Artigo publicado na Folha de São Paulo
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